O Homem da Caixa Preta, uma aventura na mente e na obra de Maneco de Gusmão – Parte três

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Maneco e a Caixa Preta
Maneco de Gusmão vestindo uma de suas criações em frente a Caixa Preta (Imagem - Luís Guilherme Burza)
Co-Working em Ouro Fino

O Retorno, polêmicas e os planos futuros.

Após 14 anos na Europa, vivendo no olho do furacão criativo, envolvido em movimentos culturais, expondo sua arte em diversos países o chamado Velho Mundo, Emanuel de Gusmão enfim teve que voltar para sua terra. A motivação, como dito ontem, foi cuidar da saúde de sua mãe. Dona Antonieta Gusmão viria a falecer em 2008. (clique aqui para a parte dois e aqui para a parte um)

Ainda enquanto vivia na Europa, Maneco já participava da vida cultural de Ouro Fino. Tal qual a água de um rio desaguando no mar vai se tornando aos poucos salgada, o Homem da Caixa Preta foi meio que voltando aos poucos para sua terra natal, embora a analogia mais correta fosse o inverso, ele saindo do oceano de Paris para o rio de Ouro Fino, como na canção Riacho do Navio de Luiz Gonzaga:

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Ah! Se eu fosse um peixe
Ao contrário do rio
Nadava contra as águas
E nesse desafio
Saía lá do mar pro
Riacho do Navio
Eu ia direitinho pro
Riacho do Navio

Em meados dos anos 1990 Maneco conta que participou da fundação da Escola de Samba Reais Raízes. Juntamente com Oberdan Zerbinati e ajudou a realizar um dos mais marcantes desfiles de carnaval que Ouro Fino já viu, que homenageou a música “O Menino da Porteira”. Na Avenida Guarda Mor Lustosa, em azul e branco, num Samba Enredo composto por Ilson Mariano o público viu uma versão carnavalesca da música que ficou imortalizada na voz de Sérgio Reis. “Ouvindo, ao som do berrante o mineiro radiante tocando a boiada”. Lá de Paris, e visitando sua terra natal, Emanuel de Gusmão ajudou a dar a Ouro Fino uma identidade que hoje nos faz nacionalmente conhecida: A Terra do Menino da Porteira.

Maneco de Gusmão nas escadas da Caixa Preta. (Imagem – Luís Guilherme Burza)

Desta nova identidade surgiu, ainda enquanto Maneco morava na Europa, o monumento do Menino da Porteira, no trevo de acesso a Ouro Fino. Anos depois, já com ele vivendo aqui em sua Caixa Preta, vieram o Boi Sem Coração, o Berrante e o Cavaleiro. Só que Emanuel de Gusmão tem sua obra e vida marcada pela dualidade, desde os tempos que foi inspirado pelo profano Carlos Zéfiro e instruído pelos sagrados padres capuchinhos e isto o caracteriza até hoje, “estas estátuas muito grandes não têm muito a ver com a realidade atual, porque hoje todo mundo quer tirar fotografia e essas esculturas imensas não tem como fazer isso. Então ela fica meio perdido. Mas ao mesmo tempo o Menino da Porteira trouxe esta identidade sertaneja e também caipira para Ouro Fino, mas Ouro Fino não é só isso, a cidade tem um outro lado, um lado mais antigo, um lado intelectual e político, com o cinema e mais coisas e agora ficou só este lado sertanejo e caipira.” Polêmico, Maneco critica aquilo que ajudou a criar.

Enfim, em 2004, o Homem da Caixa Preta, resolve voltar de vez para sua cidade natal. Divorciado de Clodia, com sua mãe já em avançada idade e precisando de cuidados e convidado a participar da campanha eleitoral do então candidato Luiz Carlos Maciel, o Cacau, Maneco deixou Paris e retornou a Ouro Fino.

A campanha de Cacau sagrou-se vitoriosa e com isso Emanuel de Gusmão ocupou a Secretaria de Cultura da cidade de 2004 a 2010. No cargo pode incentivar as artes na cidade. Promoveu um festival de teatro que ganhou fama na região, apoiou a ONG Cultura Ativa, que entre outras coisas, gerou a Rinha do Rock, que funcionou na antiga rinha de galos do Montanhês Clube, onde diversos grupos deste estilo musical puderam compartilhar o espaço, ensaiar, trocar informações e experiências. Também apoiou um festival de rock na cidade. Foi um momento cultural único para a Ouro Fino, com um artista, filho da terra, com uma vivência internacional, não uma simples passagem por países estrangeiro, mas pela cidade que talvez seja ainda o epicentro das artes mundiais, Paris, cuidando das artes em Ouro Fino.

o Maneco de Gusmão mostra um terço centenário exposto na Caixa Preta. (Imagem – Luís Guilherme Burza)

Ao deixar a Secretaria de Cultura Maneco pode voltar e se dedicar a arte, coisa que, aliás, nunca deixou de fazer, antes, durante e depois de sua atividade política-administrativa. Ele produziu obras que ficaram temporariamente expostas e outras que estão permanentemente abertas, ou nem tanto, ao público aqui em Ouro Fino: Os Evangelistas no Santo Cruzeiro; a Estrada dos Santos Negros, na Rua José Lino Simões; as Grades da Memória, que hoje estão na antiga Rodoviária de Ouro Fino; o Malédico, que homenageia o personagem criado pelo advogado e jornalista Plínio Miranda; As 10 lavadeiras, o Luiz Gonzaga, fixado em frente o Eden Clube, local onde o Rei do Baião fez sua primeira apresentação profissional, nos anos 1930 e é claro, a Caixa Preta, a qual voltaremos na quarta e ultima parte desta reportagem.

Mas como artista e visionário a cabeça de Maneco não para e não se conforma com pouco. Para ele Ouro Fino carece de uma identidade, a alcunha de “Cidade do Menino da Porteira”, que ajudou a consolidar lá nos anos 1990, já não agrada pois diz que “fomos muito mais no passado e é necessário que isso seja resgatado”. Emanuel de Gusmão vê então no cinema uma forma dar uma nova identidade da cidade, de recuperar o aspecto cultural que Ouro Fino já teve. Ele pensa em fazer um filme sobre a cidade e sobre sua obra. Em sua visão um filme poderia divulgar Ouro Fino de uma forma efetiva, além disso como ele mesmo diz, “no cinema entra tudo, entra o teatro, entra a música, entra a cidade, as pessoas”, ou seja, em sua ótica um filme englobaria várias vertentes artísticas. O homem da Caixa Preta é, antes de tudo, um visionário.

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