Geraldo Affonso fala sobre a importância da Caixa Preta para Ouro Fino

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Maneco de Gusmão e Geraldo Affonso na Academia Ouro-finense de Letras e Artes (AOLA) / Imagem: Geraldo Affonso
Co-Working em Ouro Fino

O Observatório de Ouro Fino conversou com Dr. Geraldo Affonso, membro efetivo da Academia Ouro-finense de Letras e Artes (AOLA) e amigo do artista plástico Maneco de Gusmão, falecido em maio deste ano, onde relata a importância cultural da Caixa Preta, legado deixado pelo artista para a cidade de Ouro Fino.

Tati Bueno: O que pode acontecer com a Caixa Preta?
Geraldo Affonso: Gostaria de esclarecer que o artista Maneco de Gusmão tinha uma grande preocupação com o destino de seus bens, após sua morte, em especial sua residência, a famosa Caixa Preta que também era seu atelier e o principal repositório de suas criações artísticas. Essa preocupação ele confidenciou com várias pessoas, inclusive comigo. Sua ideia era a de constituir uma ONG ou uma fundação que preservasse a Caixa Preta como um polo cultural, mesmo após sua morte. No entanto, seu falecimento totalmente inesperado, pois ele aparentemente estava muito bem de saúde, frustrou essa pretensão e pelo que sei, alguns primos com direito a sua herança, pois ele era solteiro e não tinha filhos, já se habilitaram no processo de inventário. Assim, no momento, seus herdeiros e proprietários de seus bens que incluiu a Caixa Preta, têm a disponibilidade de fazer o que quiserem, inclusive vender o referido imóvel e as obras de arte que lá estão.

TB: Quais são os interesses do poder público ou privado para que se mantenha preservado e ativo este patrimônio cultural da cidade?
GA: Como bem se deduz de sua pergunta, a Caixa Preta é um patrimônio cultural da cidade e deveria continuar ativo e preservado, isto é, não pode morrer e desaparecer junto com o seu idealizador. Daí advém não só o interesse do Poder Público, mas o dever de manter esse patrimônio incorporado aos bens públicos e à disposição da população. Vale acrescentar que Poder Público Municipal tem um instrumento hábil para isso que é o instituto da desapropriação da Caixa Preta por ser de utilidade pública. Eu já tive a oportunidade de conversar com o prefeito Henrique Wolf e ele concordou com a necessidade de se preservar o referido imóvel como espaço cultural.

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TB: Qual a importância que a Caixa Preta tem para Ouro Fino? Ela poderia se tornar uma escola de arte contemporânea ou um museu para visitação?
GA: A Caixa Preta é uma das principais atrações culturais de Ouro Fino. Maneco criava suas obras para Ouro Fino e não com o objetivo de comercializá-las. Ele raramente vendia qualquer de suas criações. Tinha uma enorme satisfação em vê-las espalhadas pela cidade e em seu reduto artístico que era a Caixa Preta. Gostava de receber as pessoas que iam à sua casa para conhecer suas obras, na verdade, um verdadeiro museu e local em que inúmeros eventos recreativos e culturais eram realizados. Cumpre esclarecer, principalmente aos que não conhecem a Caixa Preta, que ela fica situada num dos locais mais elevados de Ouro Fino com uma vista deslumbrante e de onde, ao entardecer, se contempla um “por do sol” de tirar o fôlego. Além do inquestionável valor turístico ela é um espaço ideal para aulas, oficinas de arte e outras atividades.

TB: Além de preservar o que já existe de obra, é importante incentivar esse tipo de arte que Maneco fazia, para ganhar novos adeptos na cidade, como crianças e jovens? GA: Maneco de Gusmão era um artista contemporâneo em todos os sentidos. Qualquer coisa em suas mãos podia se transformar em obras de arte, ou seja, papel, resina, plástico, casca de ovos, peças de automóvel, pneus e outros objetos de borracha, tudo valia em suas concepções artísticas. Uma amostra dessa incrível criatividade as pessoas encontram na Caixa Preta, daí a importância de não deixá-la morrer, mas torná-la cada vez mais acessível ao maior número de pessoas, principalmente às crianças e aos jovens, pois a arte é transformadora e contagiosa no melhor sentido.

Maneco de Gusmão vestindo uma de suas criações em frente a Caixa Preta (Imagem – Luís Guilherme Burza)

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