
“Meu evento, meu monumento, meu Vaticano”
Entrar na Caixa Preta, a casa-obra de do multiartista Emanuel de Gusmão é uma experiência única. Vista de fora a residência em formato cúbico, toda pintada de negro e adornada com esculturas e objetos em sua maioria em dourado (cor que remete ao barroco contemporâneo) já chama atenção. Dizer que a Caixa Preta é preta pode parecer redundância, porém não é, já que o nome é inspirado em um sistema de segurança de aviões, também conhecida como caixa preta, porém o Flight Data Recorder (Gravador de Dados de Voo, em tradução livre) é, na verdade, laranja, para facilitar seu rastreamento em locais de difícil acesso como florestas ou o fundo do mar. (clique aqui para parte três, aqui para parte dois e aqui para parte um)

Quem observa ao longo dos anos percebe que a obra de arte não é fixa, mas sim mutável, que vai se alterando conforme a inspiração do autor. Ao ser questionado se esta constante mudança lembra o que ocorre, a Catedral da Sagrada Família, em Barcelona, obra prima do arquiteto Antonio Gaudi, Maneco responde modestamente que é “uma grande pretensão”, mas concorda que a Caixa Preta tem a característica de ser uma obra que nunca é acabada, tal qual a edificação católica da Catalunha.
Emanuel de Gusmão define sua casa como “Meu evento, meu monumento, meu Vaticano” e tal qual um pontífice governando seu pequeno Estado como um enclave num dos pontos mais altos do perímetro urbano de Ouro Fino ele explica que obra-residência é “a arte de morar dentro da arte, porque ela é uma obra de arte e que contém centenas outras de outras obras de arte. Eu estou inserido no contexto do Barroco Contemporâneo, porque pela é dualidade que o Barroco tem entre o feio e o bonito, entre o pobre e rico, essa é a força do Barroco, ela está na contradição e meu trabalho é que está na contradição. Eu uso todo tipo de material que que venha na mão, desde borracha de pneu até materiais nobres. Eu faço escultura, pintura, instalação… Eu digo que a Caixa Preta é meu monumento, meu evento, meu Vaticano e que aqui eu vou modificando as coisas e que eu vivo dentro de uma obra de arte.”

A casa tem 450 metros quadrados de construção, mais uma extensa área livre. A ideia de morar neste local e de criar uma obra de arte em forma de casa, ou uma casa em forma de obra de arte, surgiu num dia quando Emanuel de Gusmão fazia uma caminhada pela Avenida Dr. Raul Apocalipse, que liga o bairro Nova Ouro Fino (Montanhês) ao Bairro do Alto. Ao chegar próximo a Rua Américo Pardini ele conta que ficou “chapado com o visual”. Realmente daquele ponto é possível ver grande parte de Ouro Fino, além da cordilheira onde estão o Morro da Ventania e a Pedra do Itaguaçu, pontos mais altos do município. Na época o local era ermo, mas ele decidiu que iria viver ali. Por obra do destino o então presidente do Abrigo São Vicente de Paulo, Sebastião Assis, visando levantar fundos, estava vendendo terrenos pertencentes a entidade. Maneco comprou dois destes terrenos e então iniciou mais uma trajetória em sua vida, a de se tornar O Homem da Caixa Preta.
(A baixo uma galeria de fotos do interior da Caixa Preta)

Dizer que a casa dele é a obra definitiva de Emanuel de Gusmão é precipitar o tempo, sua mente é um dinâmo, um moto perpétuo que a qualquer momento pode produzir algo inovador e surpreendente, mas não é exagero afirmar que a Caixa Preta é uma obra inovadora. Em Ouro Fino existe algo que, se não for único é ao menos raríssima em termos de arte e arquitetura.
Por fim Maneco explica que a Caixa Preta é aberta ao público, e que os interessados em conhecê-la devem agendar a visita, afinal lá também é sua casa, é seu refúgio, é onde ele vive e trabalha, onde mantém seu canal do YouTube e sua página no Facebook. Assim os possíveis admiradores deve telefonar em horário comercial no número (35) 99991- 98411 para marcarem o horário e terem como guia o próprio O Homem da Caixa Preta, Maneco, Manecaux para os franceses, o multiartista Emanuel de Gusmão.






